Princípio da transformação.
Dor é ponto final.

Correr contra o ponteiro
que nos alcança.
Correr do amor
que não sai da gente.
Ah essas tais pressas,
pura perda de tempo.

Descarar
o cara a cara
e ter coragem
para escancarar
o coração.

Adeus, a Deus devia ser.
Mas o que não é de coração
não pode ser chamado de oração.
Então fica assim: sem palavra.

já que minha voz
não te alcança
e não posso mudar
para dentro de você,
eu mudo.

Juntinhos

Eu olho pra você
você olha pra mim,
desenhamos estrelas
nos cantinhos do corpo
e morremos com o sorriso
engasgado na pieguice
desse querer sem querer.

Foi só bater palmas
e você veio
ao meu encontro
com seu amor
incondicional.
Hoje coloquei
minha melhor roupa,
te coloquei no colo
e entreguei você
para Deus.

Acredite, eu acreditei.
Errei o seu erro.
Te abriguei,
briguei, chorei.
Sorri o seu sorriso.
Perdoei sua falta
de perdão.
Tentei ver com
seus olhos
que hoje me condenam.
Pelo que sou ou sinto?
Sinto muito.

Deixa eu pegar na sua mão
para as pessoas verem.
Deixe que falem até parar.
A verdade cala.

Beco sem saída

Você e seu medo de me perder.
Eu e meu medo de te ganhar.

Não fui atrás. Jamais.
Não vou deixar me arrastar
pela sua pequenez.

A alma está nua,
sujeita a flores e espinhos.
Coisa de quem não veio ao mundo
se esconder.

As palavras estão no ar,
sei que não são para mim.
Mas se tivesse uma rede
daquelas de caçar borboletas,
cataria uma a uma.
Colocaria no álbum de lembranças
que guardei de você.

A cabeça baixa se levanta.
Percebe que a lua tá linda
e sempre esteve ali.
Seu olhar mudou.

Baby, baby, não sei dizer
qual dos seus olhos me seduz mais.
Me entrego ao som da sua boca.
Me esfrego no seu rock glam.
Mr. Jones, visão minha
por tempos intermináveis.

canta seu amor
baixinho no meu ouvido.
juro ficar quietinha
para ouvir passarinhos.
diga seu desejo
dentro da minha boca.
juro ficar inquieta
até a hora dos carneirinhos.
de manhã, a gente se apronta,
põe as juras na mesa.
e voa com as borboletas.

Gosto de brincar
de palavras cruzadas.
As minhas cortam as suas.
As suas atropelam as minhas.
Desafio que faz o tempo parar.

Deus me deu a palavra.
Quando vem aos borbotões,
sei, sou chata.
Há quem me cala,
ora beijo, ora tapa.
Silêncio em resposta,
ah esse me mata.
Daquelas mortes
não anunciadas.

Lamento. A gente
se tratou como bicho.
Você bicho acuado,
eu ferido.

Você me inspira.
Eu te perdoo.

Tá, sou sua.
E daí que me pega
como quem não quer?Nada?
E daí?
Que me cata,
me come, me mata.
Me basta.
E daí?
Que me manda,
me desmanda,
me esquenta,
me inquieta,
me aquieta.
Me desperta.
E daí?
Que me toca
e nem se importa.
Se hoje bem,
amanhã ninguém.
E daí?
O que é que tem?

Perco vidas esperando
perdão de uma guerra
que nunca existiu.

Fico nua diante de você,
mesmo sem tirar
uma peça de roupa sequer.

Insistir em vão
é desistir que vem.
Sem tempo de ver
o tempo fugido das mãos.

Regras Simples da Vida XII

Desconstruir a língua.
Conceber palavras puras.
Silabandiar por outras bandas.
Reescrever-se sempre.

Aquela pessoa que não gosta
de ser chamada de pessoa
mexeu tanto com você
que se tornou aquela.
Mas nem o aquela
serve mais pra ela.
E no meio de tantos senãos
aquela pessoa
está se tornando
apenas mais uma
no meio da multidão.

- Pérolas aos porcos.
Bradou a rainha
ao desvendar
as tolices
de seus súditos.

Olho as linhas da minha mão
demarcada como terra de ninguém,
sigo torta por dedos eretos,
meto a fuça onde o cheiro me busca,
me meto, me mato, me basto.

é pesado
o medo da transparência,
é morna
a vida sem sustos,
será
que dá pra deixar
a carga do passado
em qualquer esquina?

Teu olhar é mudo.
O que grita,
meu olhar em mim.

Regras Simples da Vida XI

Roda gigante de pensamentos
enjôa a cabeça, não dá,
nem pra admirar a vista.

Meu coração não é mais seu,
nem tampouco dias e noites,
meu pensamento só procura você
quando a tristeza me ronda,
herança única que resiste
ao tempo em silêncio.

Sonífera (Sandra Tavares)

Sonífera não faz dormir.
Anti-heroína dos nossos sonhos.
Perdeu as pálpebras e os olhos
ao se confrontar com o Rei Sol.
Sonífera vagueia madrugadas,
suas órbitas sugam animas, animas, animas.



"Dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos. Ele fala conosco por meio dos sonhos."
(Carl Jung)


André Magalhães
Design - Foto
capitaoinfinito.tumblr.com

Yago Marciano • Dill - Beleza
Kate - Modelo (V Models)

Amigo me disse
para não escrever
amores que se foram.
Vinícius diria
isso é tirar doce
da boca do poeta.

Troco os passos,
tropeço nas impressões,
cambaleio na corda vocal.
Nem meia volta, nem volta e meia.
Liberdade de seguir em frente sempre.
Ainda que doída.

Não que não tenha tentado.
Férias dos versos que correm na veia
é pedir pra morrer.

Bandeira branca, amor.
O cravo cansou
de brigar com a rosa.
É hora de cair no passo
e a vida gozar.

(Bandeira Branca, O Cravo e a Rosa, Quem sabe, sabe)

Insisto
o que vale.
Desisto
o que não.

Cato
toda palavra
que acho na rua.
Guardo
todo verso
desencontrado
na cabeça.
Sorrio
todo sorriso
encontrado
ao léu.
Pontuo.