sábado, 28 de fevereiro de 2004

Não Entender

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, de modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector. A Descoberta do Mundo.


Me senti melhor ao ler esse texto de Clarice. Finalmente, entendi e resolvi assumir que não entendo. Me resta então sorrir e continuar a vida.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

Nos momentos tristes, eu costumo escrever melhor.
Deve ser porque escrever é uma forma de desabafar.
Mas desta vez a minha tristeza é tanta, que
nem palavras bonitas estou conseguindo escrever.

Só queria dizer que a gente vai se reencontrar
e quando isso acontecer nós vamos fazer muita festa, como sempre.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

Carnavais Inusitados.

Eu a Beth e Paula jogando bocha numa casa de uns locais lá de Piúma.
A gente tava passando na frente de uma casa e pediu pra ir ao banheiro. Quando passamos do portão, encontramos a pista de bocha. Nunca nenhuma de nós havia jogado aquilo e acabamos ganhando de lavada da filha do dono da casa, graças à aptidão esportiva nata das sapinhas.

Eu, Flávia e Cri em Angra dos Reis. A gente não tinha onde dormir porque o lugar tava cheio de produtos do 1406. Todos aquelas coisas loucas espalhados pelo chão, sofá, cama, mesa, banheiro. Tudo do pai da Cri que adorava o canal.

Eu, Polly e Fábio em Ouro Preto. Uma chuva do cão e o fábio com as calças dobradas no joelho, dando pinta se abanando com um leque rosa pelas ladeiras da cidade. Chica da Silva perdia pra ele.

Salvador. Uma rodinha de gays e um cara no meio, dançando horrores e beijando os caras que davam trela. Quando aparece uma loura hetero, furiosa, e tira o cara de dentro da roda. Ela saiu de lá arrastando o namorado pelos cabelos.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

Sambinha para a Elettra.

Judia de mim.
Judia. Eu não sou merecedor de tanta dor.

Me chama inhaca, nem olha pra mim.
Não lê o meu blog, judia de mim.

Judia de mim.
Judia. Eu não sou merecedor de tanta dor.

Me chama de poluidrão e ri da minha cara,
se faço protesto, debocha e maltrata.

Judia de mim. Elettra judia.
E eu não sou merecedor de tanta dor.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

Palavra forte esta que me cala.
Sai e volta pra dentro da boca
em forma de pensamento mudo.
Se não criar coragem logo,
vou acabar engolindo
e tendo indigestão
a vida inteira.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

Previsão do tempo: instável, sujeito a trovoadas.
Se por acaso eu for grossa com vc ou perder a paciência, não se assuste.
É uma frente fria que está passando por aqui e que pode fazer chover tudo
o que ficou acumulado por muito tempo.

domingo, 15 de fevereiro de 2004

Sábado foi dia de Banda Mole. Como em todos os anos, os homens vestidos de mulher, as drags divinamente montadas e os travestis rebolando como nunca. Todos os gays de Bh e outras cidades foram para as ruas.
Crianças fantasiadas, velhinhos acompanhando o movimento e o povão em massa.
Tudo preparado para a festa onde todo mundo solta as frangas, as galinhas e as sapas. Vários trios elétricos, inclusive um preparado para o Skank, parados na avenida Afonso Pena esperando o momento de subir a Bahia e arrastar um público de 150.000 pessoas.
O ponto de encontro, como sempre, no edifício Maleta. Lugar obrigatório para se tomar cerveja e ver o desfile das drags que passam por alí com altivez de rainha.
Tudo certo, as pessoas se divertindo, se conhecendo, matando saudade, paquerando, se enlouquecendo.
Tem gente que só se vê na banda: - oi como vc está? a gente só se encontra na Banda Mole né?
Tudo pronto, todo mundo concentrado na rua da Bahia, ou nos bares das ruas transversais só esperando a Banda para cair na folia e
a Banda não passou.
O evento não havia sido autorizado pela prefeitura. Mesmo já acontecendo há 28 anos na capital mineira a Banda Mole parece não contar com a simpatia do monárquico prefeito e sua corte.
Já imaginou se a prefeitura de Salvador não autorizasse o desfile dos trios?
A prefeitura alegou que a Banda ultrapassou os 40 dias de prazo para solicitar a licença ao Conselho Municipal do Meio Ambiente.
O público contou os dias para a Banda Mole chegar e a prefeitura contou dia por dia dos quarenta determinados por lei para frustrar a população.
O povo na rua da Bahia contou as horas e os minutos para os trios desfilarem e a Banda Mole não saiu.
Em outubro, veremos o candidato à reeleição para Prefeito BH, Fernando Pimentel contar voto a voto o resultado dessa trapalhada, que fantasiou os milhares de foliões alí presentes de palhaços.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004

Sou leonina sim e viro bicho quando mexem comigo.
Se tem espinho na minha pata, passa longe que tô te estranhando.
Se percebo que só quer me dar carinho, viro bicho de estimação.
E aí, vai encarar?

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha, minha irmã, minha menina
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser
Sou Deus, tua deusa, meu amor.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

Ai ai ai que sono.
Quero a minha cama enorme e o cobertor quentinho. Dormir ouvindo the verve.
Acordar de tardinha com o cheiro de café da mamãe. Fazer pão com manteiga na frigideira.
Levar o travesseiro e o cobertor pra sala. Dormir de novo, só que no sofá vendo algum filme bem melancólico.
Acordar com a Rê me beijando no rosto e perguntando se pode colocar na MTV.
Levantar, abrir a porta que bate nas cadeiras que meu pai coloca atrás só pra fazer graça.
Levar portada na cara, espalhar as cadeiras e encontrar meu pai na outra sala com a barriga mexendo por causa das risadas que ele insiste em segurar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004

Cenas reais de uma segunda-feira em Belo Horizonte

Uma mulher deixou umas garrafas se espatifarem no meio da avenida Professor Morais.
Ela sumiu por uns segundos e voltou com a vassora na mão.
Foi para o meio da avenida e começou a limpar a sujeira que deixou.
O trânsito fluía normalmente e ela entre os carros com uma vassoura roxa na mão, varrendo os cacos de vidros.
Ônibus, carros e motos desviando da mulher neurótica por cidadania.
Na verdade, é gente louca que gosta de cuidar de onde vive.
Cenas reais de um domingo em Belo Horizonte

Praça da Savassi, mais especificamente Café Três Corações.
Oito horas da noite de um domingo tranquilo. Na mureta do jardim em frente ao café, duas menininhas de no máximo 18 anos, de mãos dadas, namorando, beijando na boca.
O lugar tava cheio mas ninguém nem se importava com elas. Outros tempos na tradicional capital mineira.
E as duas ficaram alí namorando numa boa até que chegou o pai de uma delas. Quando apareceu elas já tinham se levantado e assumido a postura de amigas de colégio.
A menina apresentou a "amiga" para o pai que apertou-lhe a mão. Se despediram discretamente com um abraço e foram embora.
Cenas reais de uma sexta-feira em Belo Horizonte

Bar do orlando no aniversário da vivis. Na pracinha em frente ao bar, tava tendo ensaio da bateria da banda santa. Conversa, cerveja e samba.
Depois a galera resolveu ir para a festa da LadyJ na cobertura de um puteiro na rua Guaicurus. Vcs naum tem noção. Música de primeira com a própria Lady e o Daniel tocando electro, 80's e drum&bass.
Quem trabalhava no bar era o próprio pessoal do bordel, umas damas super simpáticas e que estavam curtindo a festa tanto quanto a gente.
Todo mundo dançando e viajando nos fundos dos prédios antigos da avenida Afonso Pena.
Garotas de programa se beijando na boca para se exibir para os mocinhos.
Dizem que dancei tango a La Grande, mas, sinceramente, não lembro.
Só sei que cheguei em casa às 6 da manhã, apaguei no sofá e acordei com meu pai saindo para trabalhar.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004

Pierrot é o palhaço que faz rir enquanto uma lágrima escorre dos seus olhos.
Ele chora por uma paixão não correspondida por uma tal de Colombina.
Chorar por amor é tragédia. Fazer o outro rir, comédia.
Juntar os dois é arte que se faz com a própria vida.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2004

Tudo começou com um beijo bom que virou uma noite boa.
Tudo muito rápido e intenso. Tão intenso que virou conversa de todos os dias.
E da conversa surgiram as discussões.
Eram brigas todas as tardes e o dia sempre acabava com janelas fechadas na cara.
As mensagens trocadas eram: grossa, você leva tudo ao pé da letra, tá precisando crescer, não me enche.
E ficaram tão comuns que quando não tem isso, a gente sente falta.
Sente falta de apanhar na cara pra ver se acorda. Mas para quem tá de fora, a falta é de vergonha mesmo.
Uma reclama de gritos que nunca existiram, a outra reclama da pouca proximidade que é na verdade é muita.
Uma queixando-se da outra o tempo todo. Cada qual buscando seu espaço para acomodar o ego inflado.
Papo de leoninos, vida de bicho rei. Dentes à mostra, garras afiadas, juba arrepiada e coração mole.

Para a menina que ama requeijão com minhocas.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2004

A gente tem o cuidado de receber os amigos em casa, oferecer requeijão com minhocas pra eles, dar carinho.
E só porque naum conseguiram ganhar de mim na sinuca, sabe o que eles fizeram?
Me deram mais um apelido: La pequitita.
É isso que dá ser tão gentil com as pessoas.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004

hahaha..só agora caiu a ficha de que eles poderiam estar fingindo uma gravação e ser simplesmente uma ação promocional. Se for isso, tiro meu chapéu porque foi muito bem feito..eles ligaram a câmera no bar que eu estava..tinha diretor...e tudo. Se foi só teatro foi muito bom..rs..
Não é que no domingo eu estava em um boteco no mercado central quando entrou uma equipe para gravar um comercial.
Eu lá tomando minha cerveja em paz com uma amiga, aí chegaram uns caras fortões, pegaram um mulher e saíram pelos corredores levando a desesperada. Só naum entendi pra onde eles a levaram porque em Bh naum tem ilha, muito menos quadrada..rs..
Foi bacana, agora se eu aparecer no vt, vou querer cobrar cachê.
Quando anoitece, só dá para ver os olhos andando pela casa. E os dentes, se abre a boca para pedir carinho.
Não importa se chego em casa às oito da noite ou às cinco da madrugada, ela fica tentando chamar minha atenção para que eu não passe direto.E é assim todas as noites.
Outro dia, devia ser uma três horas da manhã quando a ouvi me chamar pela janela. Acordei danada da vida e arrependida por dar tanta liberdade a esse ser.
Tive que sair de casa e ver o que estava acontecendo. Não era nada demais, ela estava se sentindo incomodada por roupas brancas penduradas no varal.
E lá fui eu, com a paciência de um Dalai Lama apanhando as roupas uma por uma.
Guardei todas as blusas que estavam no varal e quando estava quase voltando pra dentro de casa, ela veio, toda desengonçada com um osso na boca, me chamando para brincar.
Essa é a Lara, também conhecida como Larinha, Larica, Nega, Preta e outros tantos, 1 ano e um mês e afilhada da Dedo da Deusa.